Crise no abastecimento de água é um problema antigo e sem solução a curto prazo

 Por Sofia Jucon - Jornalista especializada em MeioAmbiente e Sustentabilidade

     E o assunto "água" continua sendo a pauta no momento. Desde o artigo que publiquei no dia 22 de janeiro de 2015 na Norminha, o tema ganhou uma proporção inimaginável. Além de todo o constrangimento que a crise hídrica vem causando em nível nacional, o que estamos vendo hoje é uma grande histeria, literalmente falando. Fiquei chocada com o volume de gente comprando galões de água para estocar em casa por causa do medo de ficar sem o recurso. Seria cômico se não fosse trágico. A essa altura do campeonato não temos muito o que fazer e estocar água não vai ajudar a resolver o problema até mesmo porque o período de vida útil para o consumo de uma água mineral engarrafada dura, em médio, 12 meses.

     Na verdade a crise hídrica é um fantasma antigo e muitas gerações já sofreram com isso no Brasil. Como jornalista na área ambiental, venho acompanhando diversos especialistas, que sempre alertaram para a importância da gestão ambiental em todas as esferas da sociedade. O resultado que estamos vendo hoje é justamente porque ninguém, salva poucas exceções, prestaram a atenção nisso. E grande parte da população, infelizmente, sempre achou que o problema não era com ela.

     Nos últimos dias chamou muito a minha atenção, uma entrevista que compartilharam na minha rede social concedida por Paulo Nogueira Neto, professor de Ecologia da USP e titular da Sema - Secretaria Especial do Meio Ambiente, do gobverno federal, que comandou de 1974 a 1986. Nesta entrevista, Nogueira Neto, já em 1977, alertava que água de São Paulo estava no fim. Nesta reportagem, o professor destacou São Paulo e Belo Horizonte como "exemplos típicos de má utilização da água doce" no Brasil. Ele afirmou que as duas cidades deveriam "cuidar irgentemente da preservação de seus recursos hídricos", ressaltando que a situação da capital paulista era "particularmente delicada", pois os mananciais que a abasteciam já naquela época seriam poseriormente necessários para atendimento à região metropolitana que começava a se formar em Campinas. E acrescentou: "E, talvez, antes do final do século, São Paulo terá que se abastecer com água trasnportada do vale do Ribeira".

     O que estamos vivendo hoje é justamente isso, com grandes agravantes!

     Outro excelente especialista no assunto, o saudoso geólogo e professor Dr Aldo Rebouças, um dos principais pesquisadores brasileiros em Hidrologia e Planejamento de Recursos Hídricos, que eu tive o prazer de conhecer e entrevistar várias vezes, também costumava dizer que o Brasil é o único país que combate escassez de água com mais oferta de água. Ele tinha uma visão crítica sobre as políticas públicas que, em geral, se concentram mais na busca de novas fontes de água sem resolver os problemas que comprometem cada vez mais o abastecimento. Em 2004, durante entrevista para o Programa Roda Viva, da TV Cultura, ele informou que com a seca daquela época, muita gente ficou sem água. Mesmo com as chuvas, a escassez continuou por várias razões: estava chovendo no lugar errado e já não se faziam mais reservatórios como antigamente. Na época, a crise da água já era motivo de muita preocupação.

     E, mais uma vez, volto a ressaltar não está nada diferente do que estamos passando nos dias atuais. Agora, o que fazer diante da situação que nos arrebata? Estocar água mineral, mudar de Estado? Qual estado? A situação é crítica em todo o país. Bater na tecla da educação ambiental, infelizmente, não temos mais tempo. A situação da poluição ambiental e falta de planejamento público chegou num ponto que se correr o bicho pega e se ficar o bicho come. O estrago está feito, mas não custa recomendar algumas dicas para o uso mais consicente da água. Aliás, diversas companhas já estão sendo realizadas em empresas, escolas, hospitais, etc. Vamos ser mais conscientes com o uso deste recurso tão primordial para a nossa vida. E, vaos rezar para chover muito e nos lugares certos.

     Fique de olho nas dicas de economia!

 * Cheque vazamentos em canos e não deixe torneiras pingando. Um gotejamento simples, pode gastar cerca de 45 litros de água por dia.

* Deixe pratos e talheres de molho antes de lavá-los.

* Aproveite a água da chuva para aguar as plantas e o jardim. As plantas absorvem mais água em horários quentes, então molhe-as de manhã cedo ou no fim do dia.

* Feche a torneira quando estiver escovando os dentes ou fazendo a barba. Só abra quando for usar. Uma torneira aberta por 5 minutos desperdiça 80 litros de água.

* Em vez de mangueira, use vassoura e balde para lavar pátios e quintais. Uma mangueira aberta por 30 minutos libera cerca de 560 litros de água.

* Reaproveite a água da sua máquina de lavar para lavar a calçada, o quintal e até mesmo dar descarga no banheiro.

* Saber ler o hidrômetro é muito simples e pode ajudar a detectar problemas como vazamentos, percebidos pelo consumo fora do normal.

* Não tome banhos demorados, 5 minutos são suficientes. Uma ducha durante 15 minutos consome 135 litros de água.

* Antes de lavar pratos e panelas, limpe os restos de comida com uma escova ou esponja e joque no lixo.

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